quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O Sensacionista


O lirismo, para mim, passou a constituir-se

como algo fundamental, existencialmente necessário.
Pude refazer certos passos desde a infância e notar
sua presença em todos os meus instantes, em cada um deles.
Esse movimento, ou modo de ser, é sempre de alguma forma,
que não sei qual,
acompanhado de uma tristeza, uma tristessa.
As tardes na companhia de alguns brinquedos,
os olhares que se cruzaram e não se tocaram,
os amores que não se permitiram,
tudo isso me parece permeado de alguma energia lírica, lúdica.
Uma energia que brilha, que luzia, uma "ludicosidade".

Esse lirismo, ou "liricidade", como prefiro usar,
enquanto qualidade do lírico, me inspira.
Seja nas bolas de gude lançadas na esquina,
ou nos aviõezinhos de papel atirados na realidade viscosa
que caracteriza o viver de cada um de nós.

As luzes amarelas da cidade velha,
acompanhadas de balcões de madeira encardidos,
discos usados, filtros de cigarros,
e figuras emblematicamente sujas e desgraçadas.
Tudo isso é lírico para mim, e de um certo modo lúdico,
reitero...

A poesia parece estruturar o ar ou as teias do real,
que funcionam como pano de fundo
de todos esses momentos e acontecimentos.
O samba-canção, a fumaça no espaço,
a melosidade e melodicidade de cantares femininos,
inebriam esse universo particular de sensações,
e assim fornecem as partículas urgentes de meu existir,
de meu chorar e de meu amar.

domingo, 7 de outubro de 2007

Ontologia da saudade


A saudade me constitui,

a dor que dela emana
me compõe em cada lágrima.
A solidão que dela deriva
me traz paz e dor,
uma dor que não calma,
é antes irrequieta.
Há uma espécie de caos
dentro da ordem estabelecida
por esta solidão que se deriva da saudade...

(Um carteiro passou em minha porta,
passou por duas vezes e não parou no meu portão,
nem que fosse por informação...)

Não quero...a melancolia,
mas a saudade me constitui.