tento, ultimamente, diminuir meus passos. caminhar de modo a sentir cada vibração produzida por cada pedaço de chão sob meus pés. ao mesmo tempo, busco maneiras de permitir a ação do acaso em meus dias, pôr de lado o costumeiro e quase necessário ato de avaliar as probabilidades. evitar as constantes especulações sobre fatos que estão por vir. ou não. “não tenho culpa do que ocorre em minha mente, elas simplesmente se encaixam, as informações!”, digo, numa tentativa de mostrar a quem interessa como se manifestam esses infelizes insights. caminhar. andar ainda se mostra como a melhor forma de conhecer. havia um que partilhava de processos cognitivos obsessivos como os meus. hoje ele se encontra distante, passa seus dias labutando no caribe.
uma saída me foi apresentada pela estudante milanesa de moda, o simples encontro já se mostrou como uma fuga, uma via. mirar o chão ao caminhar é sempre uma ótima alternativa ao conjunto de obviedades que estruturam nosso caminho. “tu fumas?”. talvez, preciso experimentar novas fugas. dar vez à lavanda acondicionada no frasco de plástico; novos livros; selecionar aleatoriamente alheios discos. ele já dizia que novas linhas, novas fugas são sempre bem vindas. preciso distrair-me.
sigo em direção a novas surpresas. a “não-surpresa” nos faz vítimas de domingos chuvosos, aqueles em que chove um dia inteiro em nossos corações. [dessa vez tenho um pé de jambo no meu quintal, ou terraço. poderei assistir mais atentamente ao cair de suas flores e de seus frutos. não há saída diante do dia do sol, a calmaria que ele traz é falsa, a única serenidade que possa existir se encontra nas ruas ou nos corredores dos condomínios. (ao menos a pluviosidade desses dias nos impede de tratar com aquele vendedor da loja de quadrinhos. maldito vendedor, que mais parece uma medonha árvore engolidora de pipas. espero que o jambeiro de nosso jardim não tenha essa mesma natureza. essa sabotadora e troçadora natureza.) a aguaceira traz muitas coisas, há uma espécie de macrocosmo em cada gota que desce dos céus. uns lamentam a interrupção dos dias chuvosos, outros parecem sentir lucidamente o recado por traz daqueles pingos. a chuva para estes adquire um caráter de presságio. e o resultado sob a malha celeste noturna, após um longo domingo chuvoso, só vem a dar um sinal indicativo com a cabeça a tais pré-sentimentos.]
apesar de tentar obstinadamente escapar destes dolorosos chuvosos através de minha imensa sala de ficheiros de probabilidades é justamente neles que caio. é o acaso?! há sempre uma última coisa a ser dita. alternativas para derrubar a pirâmide de cartas continuamente são encontradas.