segunda-feira, 14 de abril de 2008

Se minha parede fosse lisa, colaria pôsteres nela.


saí de casa, e ele (it) seguia me dizendo que

uma certa garota sentava numa grande pedra polida
e imaginava viajar pelos céus.

aquele senhor gordo de barba e gestos singelos
me passou aquelas letras tristes, e despediu-se de mim
com um tapinha nas costas dizendo:
"sei como são essas coisas, rapaz, sei sim."

após a primeira parada senti-me observado,
mas no final das contas,
tudo parecia não passar de ilusão.
delírios semelhantes aos da segunda infância,
a qual impedia-me tantas vezes de sorrir.
insegurança.
pessoas estranhas ao meu redor,
outras que se fizeram tal como.
lá fora chovia, e no teatro
meu próprio corpo se encarregava do trabalho.
tanto que ao colar minha testa com a do palhaço,
ao escutar seus versos e traquinas,
ao sentir minha cabeça pressionada contra a de alguém,
a qual começara a me familiarizar,
uma falsa lágrima escorreu ao longo de meu nariz,
obviamente, oriunda de glândulas
mais comuns em mim que nos outros.

ao voltar, minhas unhas se viram forçadas
a reunir graxa sob elas,
minhas costas a receber lágrimas celestes,
meus óculos de me observarem
cuidadosamente de cima do capô.

dessa vez ele (it) insistia a contar-me
detalhes acerca de certas tristezas.
e eu assim disse:
"não sou capaz de dizer de onde vem,
mas minha dor somente eu posso entender."