quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O antepenúltimo dia (Ouvi o que ele disse sobre o passado.)



"Eu devia ter mudado com ela!" Ele disse, e eu passei boa parte da noite, ou madrugada, tentando subvertê-lo. Infelizmente, tentei fazer isso. Ele é um bobo, como avisei n'outro: o jovem pan é um tolo. Pena não conseguir livrar-me de toda aquela influência. Aquela da menina dos olhos grandes, que entupiu-me de toda aquela "analização".
O outro menino subiu e foi dormir. Com o medo de sempre em dizer sobre o coração alheio. Medroso, eu o chamo. Prudente, ele se diz. Vai fazer análise, como a dos olhinhos me ensinou, e como o palhaço que evoca a chuva diz em seus versos.
Ele a ama. Ela o ama. "Nem mais nem menos". E disso sei desde o "once upon a time...", mas ele insiste em dizer de suas ferrugens. Aquelas mesmas que carcomem os carinhos que entregamos.
O outro menino ficou perto, e fingiu certa maturidade, e digo que, se fingiu, o fez de maneira excelente. Foi duro e sincero como não pensei que conseguiria ser. Falou de seu cordão sem se preocupar. Pela primeira vez se colocou. Como eu, certamente, gostaria de fazer.
Preciso conseguir as caixas e reunir meus livros. Tá acabando o primeiro ano, tá chegando o verão. Tudo foi tão intenso como só meus pés suados podem dizer. O moço comprou um fusca e deu-me carona, senti o cheiro da gasolina e notei o "segurador" original de fábrica. Parecido com aquele do meu tio, quando feliz e ingenuamente , acho, íamos para a praia. Até atropelarmos o rapaz. Sinto saudades dos carangueijos.
Minhas roupas estão ali bem dobradas, e o outro das lágrimas secas e fingidas insiste em desarrumar minhas coisas. Prometo não repetir acerca de meus cigarros apagados, nem de meu cinzeiro branco. Tudo me pede pra deixar de dizer. Inclusive a tela azul do dvd. Acabou a "possível" inspiração.

sábado, 24 de novembro de 2007

De mãos dadas


Dizem que morremos desde que nascemos!

Que a lama presente entre os dedos da maldita
respinga atrás de nossos passos
quase que constantemente.
Poderíamos asserir
sem exagero
após o primeiro resfriado de nossas vidas,
o seguinte:
"Estou morrendo!"
Semelhantemente, parece que de suas "parentas",
a que mais próxima está de todos nós
é a loucura.
Que não pareça obsessão,
mas somos assediados pela loucura da mesma forma,
ou intensidade,
que pela morte.
Delírios temos regularmente,
e sempre que chegamos à extremidade
da rede de relações delirantes,
notamos a sutileza do hímen
que nos cerca e impede nosso
intercurso na dita "des-razão".
Costumeiramente, somos acompanhados,
ombro a ombro por essas duas velhas gordas
de estilos e maneiras tão peculiares.
A morte não é senão
a maior das patologias da vida, e
a loucura nada mais é que uma espécie
de morte para a tão aclamada razão.

Um idílico descotidiano


A estranheza motivada por novos lugares,

pelo que é diferente,
parece transmutar nosso olhar.
Essa inquietude,
esse desconforto germina um brilho bonito,
para não dizer romântico, em nossa percepção.
Bem no sentido dos alemães.
Como se as brumas do cotidiano ordinário
(redundância!)
fossem afastadas com as costas das mãos,
revelando a "belitude" que se esconde
sob o brilho daqueles postes
de luzes amarelas.


Ah! Que bom,
finalmente os jambeiros
derramaram seus frutos na calçada.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O Sensacionista


O lirismo, para mim, passou a constituir-se

como algo fundamental, existencialmente necessário.
Pude refazer certos passos desde a infância e notar
sua presença em todos os meus instantes, em cada um deles.
Esse movimento, ou modo de ser, é sempre de alguma forma,
que não sei qual,
acompanhado de uma tristeza, uma tristessa.
As tardes na companhia de alguns brinquedos,
os olhares que se cruzaram e não se tocaram,
os amores que não se permitiram,
tudo isso me parece permeado de alguma energia lírica, lúdica.
Uma energia que brilha, que luzia, uma "ludicosidade".

Esse lirismo, ou "liricidade", como prefiro usar,
enquanto qualidade do lírico, me inspira.
Seja nas bolas de gude lançadas na esquina,
ou nos aviõezinhos de papel atirados na realidade viscosa
que caracteriza o viver de cada um de nós.

As luzes amarelas da cidade velha,
acompanhadas de balcões de madeira encardidos,
discos usados, filtros de cigarros,
e figuras emblematicamente sujas e desgraçadas.
Tudo isso é lírico para mim, e de um certo modo lúdico,
reitero...

A poesia parece estruturar o ar ou as teias do real,
que funcionam como pano de fundo
de todos esses momentos e acontecimentos.
O samba-canção, a fumaça no espaço,
a melosidade e melodicidade de cantares femininos,
inebriam esse universo particular de sensações,
e assim fornecem as partículas urgentes de meu existir,
de meu chorar e de meu amar.

domingo, 7 de outubro de 2007

Ontologia da saudade


A saudade me constitui,

a dor que dela emana
me compõe em cada lágrima.
A solidão que dela deriva
me traz paz e dor,
uma dor que não calma,
é antes irrequieta.
Há uma espécie de caos
dentro da ordem estabelecida
por esta solidão que se deriva da saudade...

(Um carteiro passou em minha porta,
passou por duas vezes e não parou no meu portão,
nem que fosse por informação...)

Não quero...a melancolia,
mas a saudade me constitui.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Ponches & Sopapos


Havia um piano (órgão?), uma Lucy (na verdade várias), uma garotinha ruiva (oxigenada), e vários lenços que faziam muito bem o papel de um velho cobertor azul. Charlie Brown cresceu! Barry Egan reúne características tanto de um Schroeder, ao tocar seu órgão de cabeça baixa, quanto de um Linus com seus lenços de papel amarrotados e chorados. Minduim carregou suas frustrações por toda a juventude, sua Lucy se fragmentou (ou teria se multiplicado?) em várias (oito) irmãs controladoras que passaram a ocupar o cruel e psicanalítico papel de mãe (tirando, incessantemente, a bola do menino). Barry assumiu para sua existência algumas manias e outras obsessões: muitas outras caixas de pudim. O que são aquelas caixas?!
Cenários vazios, cenas insólitas, espataladas de cores que recordavam um technocolor bjorkiano, talvez a luminosidade sonora corrobore nesse delírio.
Charlie Brown chorou e pediu um psiquiatra. Aquele cachorro falante, nada mais que um barato esquizo, pode ter agido nesta direção. A desertificação dos cenários pareciam retratar perfeitamente toda a solidão em que o pobre Barry se encontrava embebido/embriagado.
Parece que a Ruiva descoloriu o cabelo e resolveu assumir o seu lugar na dolorosa existência do crescido Barry Brown. Todas aquelas estrelas, aquela malha celeste, todo aquele brilho; ele não tinha mais seu martelo, mas conseguiu quebrar vidraças e louças sanitárias, mesmo correndo com o telefone no ouvido. Quem precisa de chuva de sapos? Ora, pois...
"so here we go!".

Idem.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

A carne putrefada de um Papa.

Falamos de desfiguração, deformação, escarificação tendo em vista uma possível receita que indica como exceder suas percepções e sensações ou estados afetivos. Ele sugere a "imperfeição física, inverossimilhança geométrica, anomalia orgânica", todos esses "erros sublimes" como forma de trazer a tona perceptos e afectos; todos esses "erros" como típicas linhas de fuga, instrumentos da potência fabuladora.

Cinco em ponto!

Da sacada do sobrado, de paredes sujas e descascadas.
Daquela janela, o danado olhava-a.
Com o cabo de pentelhos nas mãos chamava-a:
-- Ei colega, tá toda de verde!
Sentada na calçada, a de verde fazia borboletas com as pernas.
Talvez em inocência, talvez. Ela retribuia um sorriso.
De mochila de rodinha e varinha na mão.
Nem Sade, nem Nabokov,
aquele das costas peludas era sutil ao mirar a de verde.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

A saudade, só a sinto, sinto-a vindo...


Ontem, fui por os pés na areia,
pela primeira vez desde...

Mergulhei no mar,
tinha em mãos uma estrela,
lembrei de quando pequeno,
quando sentia medo do mar...
ainda sinto medo dele...
Deu saudade...
Lembrei-me de tempos doces,
quando entoava canções,
embalava-me em redes de ninar...
Tempos em que também sentia medo,
medo do mar...
Deu saudade...

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

TRAQUINAS COSMÉTICAS


O cosmo é troçador!


Por duas vezes encheu minhas vias,
entupiu-as com aromas agridoces,
feriu como a gota de ácido na íris.

O cosmo é troçador!

Pôs-me diante daquelas linhas,
fazendo brotar o gelo, a lava,
e do frio a queimadura.

O cosmo é troçador!

Açoitou-me através dos canais,
trouxe gritos e lágrimas,
e disso, expôs a chaga.

O cosmo é sorrateiro,
é sádico,
e, disso, ele é troçador!


DAR SENTIDOS ÀS COISAS

"Talvez, a tarefa de todo e qualquer indivíduo seja dar sentido às coisas e ao mundo. Talvez, ao filósofo caiba articular, ordenar, tais sentidos ou significados através da criação de conceitos. Talvez, esta seja a forma de dar substancialidade aos sentidos desgarrados, aleatoriamente, atribuídos à realidade."

sexta-feira, 27 de julho de 2007

CAÇADORES DE LIBÉLULAS


Parecia que
estava abrindo meus olhos,
sentido odores,
tateando o real
pela primeira vez,
aos sete anos...